Tornou-se comum, entre os pais e
também na escola, diagnosticar alunos agitados como portadores de déficit de
atenção.
Geralmente, na
sala de aula ele é o "pestinha": arranca os brinquedos dos colegas,
anda de um lado para o outro, não fica mais de dois minutos sentado no mesmo
lugar. Nunca termina as tarefas solicitadas e sai da sala várias vezes, sem
pedir licença. Em algumas ocasiões, chega a ser agressivo.
Segundo o psiquiatra Ênio Roberto de Andrade, coordenador do Ambulatório de
Transtornos de Deficiência de Atenção do Hospital das Clínicas, de São Paulo, a
hiperatividade só fica evidente no período escolar, quando é preciso aumentar o
nível de concentração para aprender. "O diagnóstico clínico, no entanto,
deve ser feito com base no histórico da criança", explica. "Por isso,
a observação de pais e professores é fundamental."
Geralmente, os hiperativos se mexem muito durante o sono quando bebês. São mais
estabanados assim que começam a andar. Às vezes, apresentam retardo na fala,
trocando as letras por um período mais prolongado que o normal. Em casa, esses
sintomas nem sempre são suficientes para definir o quadro. Na escola, porém,
eles são determinantes.
Ao professor cabe observar se o aluno não presta atenção a detalhes e faz erros
por descuido nas tarefas escolares, trabalhos ou outras atividades; se tem
dificuldade de manter a atenção em tarefas ou jogos; se parece não escutar
quando lhe falam diretamente; se não segue as instruções até o final e não
termina tarefas escolares, atribuições domésticas ou deveres (que não seja
devido a comportamento opositivo ou incapacidade de entender as instruções); se
tem dificuldade em organizar tarefas e atividades; se evita ou é relutante em
se engajar em tarefas que exigem esforço mental mantido; se perde coisas
necessárias para as tarefas e atividades, tais como brinquedos, obrigações
escolares, lápis, livros ou ferramentas; se é facilmente distraído por
estímulos externos.
A criança hiperativa e impulsiva age assim, em geral, também em atividades
prazerosas.
Independente do grau de motivação que a atividade desperta, ela não dá atenção
às regras em brincadeiras e jogos, tem dificuldade para brincar ou se envolver
silenciosamente em atividades de lazer, não é capaz de ficar por muito tempo à
frente de computadores, agita mãos ou pés ou se remexe na cadeira, abandona sua
cadeira em sala de aula ou outras situações nas quais se espera que permaneça
sentada, corre em demasia em situações impróprias.
Segundo Ênio Roberto e outros profissionais da área médica, o
distúrbio ainda não tem uma causa única comprovada. Sabe-se que a origem é
genética e que seus portadores produzem menos dopamina, um neurotransmissor
responsável pelo controle motor e pelo poder de concentração, que atua com
maior intensidade nos gânglios frontais do cérebro. Isso explica o fato de os
hiperativos não se concentrarem e esquecerem facilmente o que lhes é pedido.
Pela alta incidência em meninos — cerca de 80% dos casos —, acredita-se que o
problema possa estar relacionado também ao hormônio masculino testosterona.
Antes de "fechar" um diagnóstico, é muito importante que a escola, ao
ter um contato com os pais, tente conhecer como a criança está vivendo neste
momento, junto ao seu núcleo familiar, pois sintomas
de desatenção e hiperatividade ansiosa podem ser considerados normais em
crianças que acabaram de passar por situações traumáticas, como a perda de uma
pessoa querida, separações, mudanças de "status"econômico. Nesses
casos, em geral as manifestações são passageiras. O que os diferencia do
transtorno de déficit de atenção é a duração do problema.
É importante também que a escola peça aos pais uma avaliação médica atualizada,
quanto à capacidade auditiva e visual da criança.
Na conversa com os pais, é importante verificar com quem fica a criança, como
ele é orientado quanto à organização de seus cadernos e atividades escolares,
por exemplo, e quanto tempo os pais dedicam ao cuidado da mesma e se interessam
por seu progresso escolar.
O professor deve ficar atento ao fato de a inquietude ser insistente e
persistir por mais de cinco a seis meses.
Caso o emocional seja descartado, é aconselhável que a família procure
profissionais especializados, como um psicopedagogo que poderá observar melhor
a criança e o adolescente, realizando os devidos encaminhamentos
multidisciplinares.
O importante é ter o cuidado de não rotular precipitadamente, pois os rótulos
são semelhantes ao gesso que, com o passar do tempo, se enrijece e imobiliza.
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