terça-feira, 15 de outubro de 2013

Hiperatividade







         Tornou-se comum, entre os pais e também na escola, diagnosticar alunos agitados como portadores de déficit de atenção. 
         Geralmente, na sala de aula ele é o "pestinha": arranca os brinquedos dos colegas, anda de um lado para o outro, não fica mais de dois minutos sentado no mesmo lugar. Nunca termina as tarefas solicitadas e sai da sala várias vezes, sem pedir licença. Em algumas ocasiões, chega a ser agressivo.
       Segundo o psiquiatra Ênio Roberto de Andrade, coordenador do Ambulatório de Transtornos de Deficiência de Atenção do Hospital das Clínicas, de São Paulo, a hiperatividade só fica evidente no período escolar, quando é preciso aumentar o nível de concentração para aprender. "O diagnóstico clínico, no entanto, deve ser feito com base no histórico da criança", explica. "Por isso, a observação de pais e professores é fundamental."
        Geralmente, os hiperativos se mexem muito durante o sono quando bebês. São mais estabanados assim que começam a andar. Às vezes, apresentam retardo na fala, trocando as letras por um período mais prolongado que o normal. Em casa, esses sintomas nem sempre são suficientes para definir o quadro. Na escola, porém, eles são determinantes.
        Ao professor cabe observar se o aluno não presta atenção a detalhes e faz erros por descuido nas tarefas escolares, trabalhos ou outras atividades; se tem dificuldade de manter a atenção em tarefas ou jogos; se parece não escutar quando lhe falam diretamente; se não segue as instruções até o final e não termina tarefas escolares, atribuições domésticas ou deveres (que não seja devido a comportamento opositivo ou incapacidade de entender as instruções); se tem dificuldade em organizar tarefas e atividades; se evita ou é relutante em se engajar em tarefas que exigem esforço mental mantido; se perde coisas necessárias para as tarefas e atividades, tais como brinquedos, obrigações escolares, lápis, livros ou ferramentas; se é facilmente distraído por estímulos externos.
          A criança hiperativa e impulsiva age assim, em geral, também em atividades prazerosas. 
          Independente do grau de motivação que a atividade desperta, ela não dá atenção às regras em brincadeiras e jogos, tem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazer, não é capaz de ficar por muito tempo à frente de computadores, agita mãos ou pés ou se remexe na cadeira, abandona sua cadeira em sala de aula ou outras situações nas quais se espera que permaneça sentada, corre  em demasia em situações impróprias.
        Segundo Ênio Roberto e outros profissionais da área médica, o distúrbio ainda não tem uma causa única comprovada. Sabe-se que a origem é genética e que seus portadores produzem menos dopamina, um neurotransmissor responsável pelo controle motor e pelo poder de concentração, que atua com maior intensidade nos gânglios frontais do cérebro. Isso explica o fato de os hiperativos não se concentrarem e esquecerem facilmente o que lhes é pedido. Pela alta incidência em meninos — cerca de 80% dos casos —, acredita-se que o problema possa estar relacionado também ao hormônio masculino testosterona.
          Antes de "fechar" um diagnóstico, é muito importante que a escola, ao ter um contato com os pais, tente conhecer como a criança está vivendo neste momento, junto ao seu núcleo familiar, pois sintomas de desatenção e hiperatividade ansiosa podem ser considerados normais em crianças que acabaram de passar por situações traumáticas, como a perda de uma pessoa querida, separações, mudanças de "status"econômico. Nesses casos, em geral as manifestações são passageiras. O que os diferencia do transtorno de déficit de atenção é a duração do problema.
           É importante também que a escola peça aos pais uma avaliação médica atualizada, quanto à capacidade auditiva e visual da criança.
           Na conversa com os pais, é importante verificar com quem fica a criança, como ele é orientado quanto à organização de seus cadernos e atividades escolares, por exemplo, e quanto tempo os pais dedicam ao cuidado da mesma e se interessam por seu progresso escolar.
            O professor deve ficar atento ao fato de a inquietude ser insistente e persistir por mais de cinco a seis meses.
            Caso o emocional seja descartado, é aconselhável que a família procure profissionais especializados, como um psicopedagogo que poderá observar melhor a criança e o adolescente, realizando os devidos encaminhamentos multidisciplinares.
             O importante é ter o cuidado de não rotular precipitadamente, pois os rótulos são semelhantes ao gesso que, com o passar do tempo, se enrijece e imobiliza.


Nenhum comentário:

Postar um comentário